“A Escavação” é um filme convencionalmente belo, mas insosso
A ESCAVAÇÃO (The Dig, Reino Unido, 2021)
Há uma gentileza em “A Escavação” que é rara no cinema de hoje — às vezes para o bem, às vezes para o mal.
No script da sempre talentosa Moira Buffini, inspirado pelo livro de John Preston, a “ação” acontece em olhares e inflexões de voz, as “tensões” são resolvidas sem um conflito real, a “história” se desenvolve com a naturalidade e a placidez de um fio de água serpenteando pelo curso pré-determinado pelo tempo e pela natureza. E sim, isso tudo é um elogio.
Mas é também justamente por essa placidez que as emoções levantadas por “A Escavação” não ficam com o espectador por muito tempo depois dos créditos rolarem. A direção do australiano Simon Stone acompanha à toque de caixa o tom do roteiro, criando um filme contemplativo, que se farta na beleza iluminada de suas paisagens, mas carece de expressividade.
Assim, recai sobre os atores a missão de comunicar as águas mais turvas e perturbadas que existem dentro dos personagens enquanto o filme corre pelo seu caminho sem grandes obstáculos — e, aqui, a avaliação das performances se torna uma questão de estilo, ao invés de talento. Carey Mulligan, por exemplo, imersa em sua forma sutil e construtiva de atuação, cria uma Edith Pretty quase frustrantemente passiva em cena.
Ao invés dela, o coração de “A Escavação” se mostra em Lily James e Johnny Flynn, que demonstram química impecável ao construir a atração entre os personagens a partir dos poucos momentos que o script reserva para eles. As dificuldades que ambos enfrentam parecem mais sólidas, e mais envolventes, do que quase todo o resto do filme.
A realidade é que, nas mãos de Stone e Buffini, essa bonita história real, que discursa sobre honra e humildade com talento e refinação, se torna um filme competente — mas sem brilho.
7/10
Onde ver: Netflix.