“Fate: A Saga Winx” se sustenta como uma boa piada — até a página dois

Caio Coletti
2 min readApr 1, 2021

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FATE: A SAGA WINX, 1ª temporada (Fate: The Winx Saga, Itália/Reino Unido, 2021)

Há um tipo específico de série que “Fate: A Saga Winx” almeja, claramente, ser. Sua construção parte de princípios muito óbvios: ela quer criar personagens arquetípicos o bastante para produzir identificação com o público, interpretados por atores carismáticos o bastante para separá-los de suas meras fórmulas; apresentar o seu mundo fantasioso com detalhes o bastante para seduzir o espectador em busca de escape, mas fundar sua história em pilares da narrativa de amadurecimento familiares o bastante para não alienar ninguém.

Em parte, o criador e showrunner Brian Young (“The Vampire Diaries”) é bem-sucedido nessas missões. O seu conhecimento do filão adolescente é evidenciado pela forma como ele foge de calcar os elementos mais cansados do gênero (o triângulo amoroso, por exemplo, existe, mas mal registra no radar dessa primeira temporada) e aposta em construções diferentes, que, até por sua novidade, funcionam melhor — vide a amizade hesitante entre Musa e Terra, que rende, sutilmente, alguns dos melhores momentos da série.

Essas escolhas simples, mas significativas, fazem com que os seis episódios da estreia passem voando. Mas isso não significa que as falhas de “Fate: A Saga Winx” não sejam flagrantes. Por exemplo: faltou achar um elenco mais forte, que fizesse mais do que modelar, esteticamente, os arquétipos buscados pelo script. Mesmo os adultos fraquejam aqui, com uma Kate Fleetwood (excelente em “Harlots”, uma série que a merece) especialmente mal aproveitada no papel da vilanesca rainha Luna.

Faltou também blindar o roteiro do maior dos vícios das séries teen que almejam alguma credibilidade kitsch: aquele que faz os personagens cometerem erros homéricos e despropositados só para a trama avançar. Em “Fate”, tudo depende da impulsividade, contrariedade e falta de insight de Bloom e, eventualmente, de suas colegas de quarto. Na maior parte dos episódios, é fácil rir e considerar esse dispositivo de trama como parte do charme da série — mas é difícil defendê-la quando esse recurso é tão central para o desenvolvimento da trama que o finale todo gira em cima dele.

Como resultado, “Fate” termina com uma nota amarga, mesmo que muitas de suas ambições narrativas, no âmbito do arco dos personagens, se mostrem recompensadoras. É uma lição que o showrunner Young e seus colaboradores deveriam levar para o segundo ano: aquela sensação gostosa de estar assistindo algo “ruim”, mas estar por dentro da piada, só se sustenta enquanto o espectador não sente que está tendo sua inteligência subestimada.

6/10

Onde ver: Netflix.

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Written by Caio Coletti

Jornalista. Repórter do Omelete. Poptimist.

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