“Lupin” ganha na loteria ao bancar tudo no carisma de Omar Sy

Caio Coletti
2 min readFeb 9, 2021

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LUPIN, PARTE 1 (França/EUA, 2021)

Raras são as séries ou filmes das quais, fora do eventual exagero de fã, é possível dizer de verdade: “isso aqui não funcionaria com nenhum outro ator”. “Lupin” é uma delas.

Omar Sy é o coração e o motor dessa produção francesa da Netflix. Ele modula o personagem principal, um homem inspirado pelos livros clássicos de “Arsène Lupin” a empreender uma vendeta pessoal e social, como, ao mesmo tempo: a) uma figura acessível e honesta em cena, pela qual é fácil torcer; b) um savant charmosamente perigoso, que se deleita em usar a lábia e a inteligência fora do comum para enganar, ganhar a vida ou alcançar o seu (nobre, no fim das contas) objetivo principal.

O equilíbrio perfeito das duas coisas é alcançado pelo ator. Seu sorriso é fácil, mas enviesado, malicioso; seu olhar para câmera é aberto, direto, comunicativo, mas esconde um brilho de calculismo que é fácil de identificar; sua fisicalidade imponente, enfiada nas roupas espertamente elegantes da série, nunca o faz parecer remoto ou intimidador.

Em suma, Sy cria um Assane irresistível, uma performance capaz de dobrar tudo ao seu redor. E que bom, porque, como série, “Lupin” é competente, mas nunca brilhante. A costura da trama, mesmo nos cinco episódios que compõem essa primeira parte, é irregular em seu ritmo e um tanto míope para as próprias forças e fraquezas. A direção — classuda, mas com pouca personalidade — naturalmente brilha mais quando o material é melhor.

“Lupin”, com sua história sensível de desigualdades raciais e sociais, e sua óbvia afeição pelos personagens que desejam virar esse jogo, tem algo a dizer, e talento para dizê-lo. Falta à série reconhecer, como o seu protagonista, a brincadeira (de gênero, de tom) através da qual essa mensagem seria passada com mais eficiência.

8/10

Onde ver: Netflix.

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Written by Caio Coletti

Jornalista. Repórter do Omelete. Poptimist.

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