Mesmo quando perde o rumo, “The Stand” é um conto moral cativante

Caio Coletti
2 min readFeb 20, 2021

--

THE STAND (EUA, 2020–21)

Josh Boone e Benjamin Cavell tomam uma decisão certeira fundamental ao embaralhar a cronologia e os pontos de vista na primeira metade de “The Stand”. Escolhendo cuidadosamente quando e como apresentar o passado de seus personagens, a minissérie nos permite desvendar, como um enigma prazeroso, o que poderia ser só mais uma história de apocalipse comum — talvez até familiar demais, em pleno 2021.

Crucialmente, eles permitem também que o espectador veja este mundo em colapso pelos olhos de indivíduos que, antes desse colapso, estavam à deriva. Em busca de redenção, ou puramente de conexão, eles partem em jornadas diametralmente opostas, e esclarecedoras. Boone e Cavell extraem do texto de Stephen King uma verdade fundamental: encontrar propósito onde não havia nenhum pode ser algo maravilhoso, ou algo terrível.

Talvez por isso a história sofra um pouco na segunda metade, quando o roteiro abandona essa estrutura em favor de reproduzir o clímax de King com alguma fidelidade — cronológica, ao menos. Aqui, “The Stand” assume ares de jornada épica e dilema moral determinista, com o toque de kitsch que é natural do mestre do terror, garantido por um par de direções brilhantes de Vincenzo Natali (“The Walk” e “The Stand”, o 1x07 e o 1x08 da série).

Neste equilíbrio muito mais difícil, justamente pelo tom não ser tão ousado, os atores carregam o peso do drama. O brilho de Greg Kinnear em uma cena chave para o seu personagem; e a intensidade e charme intransigentes de Alexander Skarsgard, construindo um Randall Flagg indefectível, salvam a série das próprias armadilhas e garantem que ela chegue ao final como um conto de bem contra o mal cativante, ainda que imperfeito.

8/10

Onde ver: StarzPlay.

--

--

Caio Coletti
Caio Coletti

Written by Caio Coletti

Jornalista. Repórter do Omelete. Poptimist.

No responses yet