“Mr. Mayor” é obviamente derivativa, mas difícil de resistir

Caio Coletti
2 min readMar 13, 2021

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MR. MAYOR, 1ª TEMPORADA (EUA, 2021)

Difícil escapar do fato que, à primeira vista, “Mr. Mayor” é pouco mais do que uma colagem de conceitos e potências que já foram realizadas anteriormente. A dupla de criadores, Tina Fey e Robert Carlock, traz a comédia de local de trabalho ácida e em ritmo alucinante de “30 Rock” para o ambiente da política municipal norte-americana, oferecendo uma espécie de alternativa cínica (até por se passar em Los Angeles) para o “Parks & Recreation” da amiga Amy Poehler.

Enquanto isso, o personagem principal, Neil Bremmer, é essencialmente uma atualização do Jack Donaghy de Alec Baldwin em “30 Rock” — de fato, a série foi originalmente escrita como um spin-off tardio, mas Baldwin não aceitou a empreitada, e Jack se tornou Neil, crescendo alguns centímetros e ganhando a disposição um pouco mais solar de Ted Danson no processo. O ator, indiscutivelmente um dos grandes talentos cômicos da TV norte-americana, faz um trabalho carismático e distintivo, mas mesmo ele é incapaz de fugir da entonação que Baldwin dava para Donaghy em algumas falas.

Para dificultar ainda mais o crescimento de “Mr. Mayor” como uma obra própria, esta primeira temporada acabou contando com quatro episódios a menos do que o planejado (sim, por causa do coronavírus). O finale que temos aqui, “#PalmTreeReform”, simplesmente não tem aquela aura de fim de temporada de estreia, onde as forças da série até o momento e as potencialidades da série para o futuro são pesadas e consideradas, em uma narrativa que aponta para frente e deixa o espectador querendo mais.

Mas, mesmo assim, é difícil não se render ao charme de “Mr. Mayor”. Carlock e Fey são espetacularmente talentosos em criar personagens com os quais sempre queremos passar mais tempo do que já tivemos, e em usá-los para discutir pontos relevantes (política e socialmente) de forma cortante, mas sem vilanizar ninguém completamente — de fato, aqui, como em “30 Rock”, o alvo das piadas é na verdade as contradições e conflitos que existem entre pessoas e entidades que se dizem progressivas ou liberais (no jargão dos EUA). Aos conservadores, “Mr. Mayor” raramente presta atenção.

É nessa paródia que atores como Holly Hunter enterram os dentes prazerosamente, entregando construções paranoicas que, salvo os exageros da sitcom, são também ferrenhamente reais. Ah, e a comédia adorável, mas cheia de pequenos momentos pungentes, de Bobby Moynihan (excelente como Jayden), nunca fez mal a ninguém.

8/10

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Written by Caio Coletti

Jornalista. Repórter do Omelete. Poptimist.

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