Não há motivo para cobrar cérebro de “Monster Hunter” — ele sabe muito bem que não tem um

Caio Coletti
2 min readMar 10, 2021

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MONSTER HUNTER (Alemanha/EUA/Japão/China, 2020)

Eu não gosto muito de falar de expectativas quando falo de cinema. Para mim, nunca é sobre entrar no filme esperando a coisa certa — de fato, quando possível, prefiro entrar no filme sem esperar nada em específico. Ao invés disso, é sobre permitir que ele te mostre o que ele é, e julgá-lo a partir dos parâmetros dessa identidade.

“Monster Hunter”, por exemplo. Quando o longa de Paul W.S. Anderson começa, ele não se preocupa em nos introduzir aos seus personagens, e ao mundo que eles habitam, de qualquer maneira substancial. Ao invés disso, nos joga no meio da ação, em um cenário deserto genérico, e pinta as pessoas inseridas nela com traços militarizados rudimentares — os personagens, aqui, precisariam de um pouco mais de profundidade para que pudessem sequer ser chamados de arquétipos.

Os primeiros minutos de “Monster Hunter”, logo, dizem tudo o que você precisa saber sobre ele: este é um filme em que a trama é reduzida aos seus elementos mais básicos de praticidade, para que possamos aproveitar a atração principal, que é a logística complicada, mas instintiva, das cenas de ação; e um filme em que a exploração do universo cinematográfico é estruturada em “missões” e anedotas que lembram as que um jogador enfrenta em videogames (não por acaso, tendo em vista a origem da franquia).

Uma vez entendido isso, é fácil apreciar como “Monster Hunter” se compromete irrestritamente consigo mesmo. Não há um segundo ocioso no filme, por exemplo — mesmo nos intervalos entre as cenas de batalha, Anderson está “gameificando” seu longa com pedaços de mitologia, introduzidos de forma debochada, ou minando um deleite visual fácil da ambientação de sua história.

Também é fácil apreciar como Milla Jovovich e Tony Jaa sobram em carisma na tela, como se dedicam às suas cenas de ação, e como criam entre si uma dinâmica descontraída, bem resolvida. A 1h43 de “Monster Hunter”, com eles e com a esperteza trash de Anderson, passa voando, e o filme se solidifica como uma diversão deliciosamente descerebrada. Na dose certa, é uma anestesia saudável para os tempos atuais.

6/10

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Written by Caio Coletti

Jornalista. Repórter do Omelete. Poptimist.

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