“NOS4A2” trouxe novas perspectivas de horror e humanidade para a TV

Caio Coletti
2 min readFeb 4, 2021

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NOS4A2 (EUA, 2019–20)

Pelas breves duas temporadas que durou, “NOS4A2” foi uma lufada de ar fresco para a televisão norte-americana. Pedra rara: uma série de horror e fantasia que não só tinha uma perspectiva original sobre horror e fantasia, como também uma apreciação genuína, sem pingo de cinismo, pelo drama dos seus protagonistas e o que eles representavam na trama.

Inspirado pelo livro de Joe Hill, filho de Stephen King, “NOS4A2” explodia em criatividade na sua construção de mundo. A pedra fundamental da mitologia eramos “strong creatives”, pessoas cujas imaginações superativas permitiam acesso a um reino “entre realidades”, nos quais eramcapazes de diferentes feitos sobrenaturais.

Este ponto em comum, no entanto, não fazia dessas pessoas uma gangue de desajustados, nem rivais cósmicos em uma luta do bem contra o mal. Qualquer das duas opções seria fácil demais. Ao invés disso, Hill e a showrunner Jami O’Brien pintavam os “strong creatives” como uma coleção de almas à deriva em um mundo povoado de outras almas que, apesar de não terem acesso a essa outra realidade sobrenatural, estavam tão à deriva quanto elas.

A honestidade refrescante da abordagem abria espaço para narrativas familiares e sociais envolventes. O desajuste dos pais da protagonista, Vic McQueen (Ashleigh Cummings, confiavelmente carismática), que reverberava quando ela mesma formava sua pequena unidade familiar; a busca incansável por afeto da cativante Maggie Leigh (Jahkara Smith); o trauma enredado em crueldade dos vilões Charlie Manx (Zachary Quinto, totalmente em casa no papel) e Bing Partridge (Ólafur Darri Ólafsson).

Em sua plena confiança nas próprias armas (de gênero e de drama), “NOS4A2” também escondia uma inteligência insuspeita — porque, por baixo das emoções superficiais de cada história, borbulhava um sentimento muito conhecido de sufoco. Cada um dos personagens de Hill e O’Brien se sentia irrevogavelmente, desesperadoramente preso em seus destinos: o econômico, o geográfico, o afetivo, o psicológico. E o final da série foi brilhantemente refletivo disso, inclusive com suas pontas soltas.

No fim das contas, “NOS4A2” era uma série sobre as pazes frágeis, sempre temporárias, que podemos fazer com quem somos. Não era necessária muita imaginação para se colocar bem no centro dessa história.

9/10

Onde ver: Amazon Prime Video.

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Written by Caio Coletti

Jornalista. Repórter do Omelete. Poptimist.

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