“O Homem Invisível” é um truque de mágica disfarçado de filme de terror

Caio Coletti
2 min readJan 25, 2021

--

O HOMEM INVISÍVEL (The Invisible Man, Canadá/Austrália/EUA, 2020)

Há pedaços de “O Homem Invisível” que são feitos com tanta inteligência (de imagem, ritmo e narrativa) que é fácil perdoá-lo pelos pedaços que não são.

O diretor e roteirista Leigh Whannell brilha mesmo é na construção do seu terceiro ato, escrevendo o incidente perfeito de quebra narrativa para dar o pontapé inicial nele, conjurando as imagens perfeitas para explorar a tensão de sua premissa, e se apoiando em Elisabeth Moss como a condutora emocional perfeita para que o público não se sinta alienado pela mudança de tom.

Porque, sob qualquer análise séria, antes daquela cena (e quem assistiu sabe exatamente de qual estou falando), “O Homem Invisível” se mostra um filme astuto, mas trivial.

Sua elaboração de um relacionamento abusivo e predatório é valorosa, mas não particularmente surpreendente — este não é, como um “Promising Young Woman”, um filme de discurso explosivo e confrontador — ; seu uso do suspense, sua estruturação das situações em que a invisibilidade do antagonista é usada contra a personagem de Moss, são efetivos, às vezes até arrepiantes, mas nunca inovadores ou conscientes o bastante de si mesmos para não precisarem ser.

Em suma, o que temos aqui é 1h20 de um terror daquela safra boa da Blumhouse, exatamente do jeito como esperamos que ele seja: tradicional, envolvente, facilmente vendido e ainda mais facilmente comprado pelo espectador, mas nunca brilhante.

Colado na frente dele, no entanto, estão 40 minutos de um filme delirantemente ousado em seus caminhos narrativos, estonteantemente pensado em sua construção visual, com um clímax (não, múltiplos!) tão excitante quanto o de qualquer blockbuster moderno, e um senso de pavor intrinsecamente psicológico que deixa até os de nervos de aço desgastados.

“O Homem Invisível” fecha na complexidade abismal do olhar de Moss, em um take final que revela a profundidade de uma performance que esteve ali o tempo todo, mesmo que por vezes sufocada pelo filme em que estava. É difícil sair dele com um gosto amargo na boca — do jeito como está, ainda que imperfeito, “O Homem Invisível” é um truque de revelação saboroso demais.

8/10

Onde ver: Telecine Play, NOW, Google Play, Clarovideo, Apple TV, Looke.

--

--

Caio Coletti
Caio Coletti

Written by Caio Coletti

Jornalista. Repórter do Omelete. Poptimist.

No responses yet