“Queen & Slim” é o encontro estrondoso de dois talentos únicos, e é impossível ignorá-lo

Caio Coletti
2 min readJan 26, 2021

--

QUEEN & SLIM (EUA/Canadá, 2019)

Há um brilhantismo em “Queen & Slim” que é indelével do estilo de Lena Waithe, a roteirista que acumula créditos em “Master of None” e “The Chi”, e que fez deste seu primeiro longa-metragem.

Assim como as obras dela para a TV, “Queen & Slim” se funda em um equilíbrio perfeito do artificial e do genuíno, do melodrama e da própria negação dele. Há algo de novelesco que faz com que conhecer esses personagens seja fácil (mais fácil do que na vida real), e algo de real que faz com que conhecê-los seja sempre surpreendente, sempre uma descoberta.

Mas há também um brilhantismo em “Queen & Slim” que é indelével do estilo de Melina Matsoukas, a diretora de “Insecure” e de vários clipes de Beyoncé, que também faz aqui sua estreia em longas-metragens.

Assim como os títulos no currículo anterior dela, “Queen & Slim” tem um impulso imagético irresistível, um dinamismo que começa na edição temperamental de Pete Beaudreau e na fotografia contemplativa de Tat Radcliffe, mas não se contém nelas. Nas mãos de Matsoukas, a semi-novela racial de Waithe transborda em iconografia tanto quanto transborda em discurso.

As performances nervosas, sentidas de Daniel Kaluuya e Jodie Turner-Smith só fazem adicionar a esse transbordamento. Eles estão sempre na ponta dos pés em cena, tanto porque estão fugindo de uma perseguição policial quanto porque estão dançando ao redor um do outro em um jogo de conhecimento e reconhecimento. A afeição intensa que nasce rápido, aqui, soa genuína e merecida — não só pelas circunstâncias extraordinárias em que eles estão, mas pela eletricidade das duas atuações.

Com pretensões épicas que se revelam com toda a potência em um terceiro ato devastador, e uma consciência aguda das realidades que busca abstrair para o seu universo ligeiramente fora de eixo, “Queen & Slim” é uma análise minuciosa e confrontadora, fundada em uma apreciação intrínseca de seus personagens e de quem eles representam, das angústias transcendentais do mundo racista do filme e de fora dele.

Waithe e Matsoukas, especialmente, o fazem gigante, e impossível de ignorar.

10/10

Onde ver: Telecine Play, NOW, Google Play, Clarovideo, Apple TV, Looke.

--

--

Caio Coletti
Caio Coletti

Written by Caio Coletti

Jornalista. Repórter do Omelete. Poptimist.

No responses yet