“Raya e o Último Dragão” enche os olhos, mas não tem uma história para contar

Caio Coletti
2 min readMar 29, 2021

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RAYA E O ÚLTIMO DRAGÃO (Raya and the Last Dragon, EUA, 2021)

Nesses mais de 12 meses de pandemia, acho que nunca senti tanta falta de estar em um cinema quanto durante a 1h40 de duração de “Raya e o Último Dragão”. Isso porque a animação da Disney é aquele tipo de filme deslumbrante que, mais do que qualquer outro que foi lançado no último ano, e muito mais do que qualquer produção recente do estúdio, deve incandescer na tela grande.

“Raya” é gigante em suas ideias visuais, explorando formas inesperadas e cores contrastantes, delicadamente colocadas lado a lado em uma composição que enche os olhos. Sua construção de mundo fabulosa escapa das linhas do texto e vai parar, eminentemente, nos traços dos artistas que dão vida a ele, manipulando traços culturais de forma irrepreensível para criar uma assinatura, um estilo próprio, arrojado e imediatamente identificável.

Nos passeios da dragão Sisu pelos céus, nas expressivas linhas retas e limpas da luta climática entre Raya e sua nêmeses Namaari, no caos urbano de uma perseguição iluminada em amarelo que ocorre perto da metade do filme — “Raya” é um lembrete vivo, ilustrado, do porquê a Disney é a primazia da arte da animação norte-americana, mesmo que seja superada por outras na arte de contar histórias através desse meio.

E é aí que entramos no script de Qui Nguyen (“The Society”) e Adele Lim (“Podres de Rico”), que busca reinventar a roda da princesa da Disney, como “Frozen” e “Moana” fizeram brilhantemente antes dele. O “Raya e o Último Dragão” que os dois criam, no entanto, é vacilante, virtualmente desprovido de estrutura— uma história que se contenta em colar conceitos emocionais lado a lado, dispensando arcos de personagem e narrativas de crescimento essenciais para a mitologia, o legado cultural, do qual descende.

Pena, mesmo porque Raya, como personalidade solta, é uma criação cativante: uma jovem plenamente capaz e independente, determinada, cínica, mas pronta para abandonar este cinismo em troca de um pouco de esperança, imbuída de carisma imensurável pela dublagem da sempre (sempre) excelente Kelly Marie Tran. E ela se move por um mundo estonteante. Só faltou traçar a sua jornada com mais esmero.

6/10

Onde ver: Disney+.

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