“Resident Alien” é uma série brutalmente honesta sobre comunidade

Caio Coletti
3 min readMay 4, 2021

--

RESIDENT ALIEN, 1ª temporada (EUA, 2021)

Ninguém aperta o play em “Resident Alien” esperando receber o que ela de fato oferece. Na verdade, essa inversão de expectativas que ela opera durante sua primeira temporada de dez episódios é talvez o maior trunfo da série, capaz de maquiar até as fraquezas do seu roteiro e o tom um tanto prosaico da produção.

“Resident Alien” é uma série sobre comunidade, que entende mais sobre esse tema do que a média das produções que se arriscam a abordá-lo no cinema ou na TV. Ela reconhece, primeiro, a força que nasce de ser parte de uma comunidade, a reconfortante sensação de ter um “lar” com pessoas que nos conhecem e desmontam as pretensões em que podemos cair no caminho de construir uma vida adulta.

Ainda mais bacana, “Resident Alien” lança mão de diversidade no elenco justamente para retratar isso melhor. A série da Syfy postula que não existe (hoje em dia) comunidade valorosa sem diferenças culturais, sem trocas intelectuais e emocionais entre indivíduos de origens e vivências diferentes — e imagina uma cidadezinha no interior dos EUA em que isso não é só possível, mas inevitável.

Por outro lado, “Resident Alien” também entende o senso de estagnação que pode vir de uma comunidade tão estreita. Muitos dos personagens do criador Chris Sheridan e de sua equipe (devidamente diversa) de roteiristas lamentam terem construído vidas limitadas, e lidam com a pouca perspectiva que resta nelas, uma vez que já encontraram o seu “lugar” dentro do tecido social de Patience (a cidade onde se passa a história).

Aqui, o elenco brilha. Alice Wetterlund (D’Arcy) é especialmente hábil em expressar essa estagnação, construindo uma bêbada adorável, carismática e engraçada sem perder de vista os machucados profundos que ditam o seu comportamento. Seu trabalho cresce de forma absurda com o decorrer da temporada, estabelecendo um meio campo que define também o tom da própria série: nós, os espectadores, nos preocupamos com D’Arcy e entendemos sua aflição, mas não estamos exatamente torcendo para que ela mude — da forma que está, ela é divertida demais de assistir.

O primeiro ano de “Resident Alien” é uma história sobre um outsider (literalmente, visto que o protagonista Harry é um extraterrestre) começando a entender e amar todas essas contradições. É um arco cativante e honesto, realizado de maneira cativante e honesta por um grupo hábil de contadores de história. Mesmo que não seja uma produção polida, a série da Syfy tem algo a dizer, e o diz de forma única — o que já é mais do que algumas produções de prestígio podem argumentar.

8/10

--

--