“Warrior Nun” pode se tornar um diamante trash, se encontrar sua personalidade pelo caminho
WARRIOR NUN, 1ª TEMPORADA (EUA, 2020)
“Warrior Nun” — em bom português, “Freira Guerreira”. Foi na base deste título impossivelmente kitsch, e de um trailer que não fugia da promessa dele, com suas piadas autorreferentes e visual de filme B, que eu dei play na série da Netflix, adaptada por Simon Barry de uma história em quadrinhos de Ben Dunn.
Em parte, pelo menos, a produção entrega exatamente o que eu esperava: uma jornada do herói vacilantemente estruturada, com um diálogo ágil e divertido, sem medo de pesar a mão nas tiradas sarcásticas constantes da protagonista (faz parte do charme!), e um plot twist no final que não faz o menor sentido. “Warrior Nun” é uma série que nunca nega os seus instintos mais básicos, a vontade de entregar ao público o que ele quer de uma maneira ampla, generosa. E isso não é necessariamente ruim.
As melhores séries “ruins-mas-boas”, no entanto, sabem como oferecer tudo isso com personalidade, e é aí que “Warrior Nun” peca (perdoem o trocadilho!) um pouco. As coadjuvantes da série são um exemplo óbvio — coloridas com pinceladas largas, extravagantes, elas são privadas do espaço de que precisam para se tornarem, de duas, uma: ou seres humanos tridimensionais; ou símbolos, arquétipos, convincentes. Sem elas, ficamos apenas com uma Ava (Alba Flores) de quem é fácil gostar, mas por quem é difícil se interessar.
“Warrior Nun” é, no entanto, dona de cenas de ação que escondem bem a sua falta de orçamento, e que mantêm o espectador envolvido na narrativa, ao invés de apenas na mecânica das lutas; de personagens lésbicas que podem florescer e escapar do subtexto com o passar dos episódios; e de uma temática religiosa que garante fonte inesgotável e fascinante de mitologia para muitas temporadas, se ela souber se aproveitar dela.
Não é uma obra-prima, nem a nova pérola trash da sua grade, mas cativa facilmente quem já chega predisposto a curti-la.
6/10
Onde ver: Netflix.